quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Frio na barriga


Paixão;

Vem do latim passio, cuja tradução seria algo como “sofrimento, ato de suportar”, de pati, “sofrer, aguentar”, do grego pathe, “sentir ”.

Fisicamente falando, estar apaixonado nada mais é do que uma série de reações físico-químicas no seu corpo. Hormônios são liberados na sua corrente sanguínea e tá aí a euforia, o frio na barriga, os olhos brilhando. Mentalmente falando? Bem, eu não sei por onde começar. Antigamente as pessoas diziam estar apaixonadas quando sentiam dor. Acho que isso diz muito sobre o quanto somos naturalmente masoquistas.

Estar apaixonado é criar um grande botão vermelho de autodestruição e entregar de mão beijada para alguém. É ouvir um "Oi, tá tudo bem?" e sentir todo o corpo responder "Agora tá". A gente perde a cabeça por muita coisa, mas tem memória de sobra pra lembrar cada detalhezinho; rosto, voz, música favorita, time, cheiro. Paixão é uma grande, deliciosa e assustadora montanha-russa e apesar da descida enorme, do carrinho instável, da falta de controle, fechamos os olhos e nos deixamos levar completamente. Depois que a gente entra, só nos resta esperar o brinquedo parar. Mas a esperança é que ele nunca pare, né?

Eu sinto muito por quem tem medo de alturas.


sábado, 10 de outubro de 2015

A fruta da estação


Amora amava o amor. Em seu jeito mais puro e genuíno. 

Era apaixonada pelo cuidado, pela doçura e pelo se importar. Sem toda aquele drama e baboseira dos romances shakesperianos; para ela o importante era querer bem. Que sorte a minha de ter conhecido alguém tão delicada e dedicada. Menina-moça-mulher que sempre dava tudo de si no que fazia e, justamente por isso, fazia tudo de um jeito mais especial. Não existia quem não se sentisse bem perto de Amora, porque ela era uma dessas raríssimas pessoas no mundo que tinham luz própria. Todos se tornavam girassóis quando ela passava, acompanhando o brilho e o calor característico da fruta da estação. Era fácil sentir-se uma boa pessoa perto de alguém tão motivado e de bem com a vida. Se ela era assim sempre? Claro que não, mas isso lhe tornava humana e ainda mais incrível. Quantos de nós conseguem se projetar para o outro até nos seus piores dias? 

Amora era vermelho-rosa-cor-de-eu-te-amo, porque era isso que eu sentia vontade de falar sempre que a via.


Sem julgamentos


Pedro tinha o coração nos pés. Caminhava e deslizava pelo tablado de madeira com aquela certeza que só ele tinha. Dançava de olhos fechados e cada respiração acompanhava aquele caso de amor com a música que tocava. Volta e meia, no meio de meias-voltas, eu vislumbrava um sorriso bobo de gente apaixonada e eu ria, contagiada por tudo aquilo. Eu mal conhecia Pedro, mas eu confiava. Confiava ao ponto de fechar os olhos e deixar que ele me mostrasse o que fazer e, cá entre nós, eu sempre preferi fazer as coisas sozinha. Estar ali, rindo no meio de vários passos enrolados e atrapalhados me fazia sentir bem. Aquecia o coração finalmente encontrar alguém assim, leve. Depois de tanto tempo seguindo uma linha reta e comum, ele era porta aberta para altos e baixos. Pensei ali que nada que eu falasse talvez conseguisse transmitir o tanto que eu estava feliz por ter conhecido ele e todos os outros que vieram junto, por isso me contentei em elogiar.

A forma que ele dançava, o carinho que ele tinha com os amigos, a paciência em lidar com alguém irritantemente feliz e que fala pelos cotovelos (mas com conteúdo)... Eu, que sempre fui tão apaixonada por estrelas, talvez tivesse encontrado uma das mais brilhantes, bem ali na minha frente. Se ele sabia? Provavelmente não. Mas era assim mesmo; as pessoas mais bonitas eram aquelas que não tinham a mínima noção disso.