segunda-feira, 30 de março de 2015

Vida que segue

Eu ando por aí
contando as horas,
contando os passos,
contando histórias.

Eu ando por aí
colecionando cores
colecionando sorrisos,
colecionando amores.

Eu ando por aí
sentindo tudo,
sentindo muito,
sentindo mudo.

Eu ando por aí
fingindo estar,
fingindo bem,
fingindo sarar.

Eu ando por aí
tentando,
caminhando,
desmoronando.

domingo, 29 de março de 2015

Era tudo vermelho


Existe uma garota. Que atravessa a minha rua todos os dias. Ela desfila em toda a sua elegância vermelha, com seus pés pequenos e apressados, sempre tão focados em chegar em algum lugar. Algum lugar desconhecido até pra ela. Ela veste o coração debaixo de vários moletons quando o clima é ameno, torcendo para que ninguém veja o quão grande ele é. Mas eu vejo. Ela resmunga sozinha sobre aleatoriedades da vida de vez em quando, esperando que ninguém esteja prestando atenção. Mas eu presto. Apenas querendo compartilhar todo aquele mundo abstrato, escondido dentro daquela mente brilhante. Ela fala sobre poesia e arte como se fosse gente grande, gente velha, mas quando ri... Ah, quando ela ri é como se tirasse dez anos das costas. Tem ar de independência, de bem resolvida, mas eu sei que tudo o que ela quer é alguém ao seu lado. Alguém que segure aquela mão pequena e caminhe pelas linhas tortas da vida. Alguém pra tomar um café numa tarde de sexta, que não se importe em ouvir suas loucuras, em rir de si mesmo, que goste do humor ácido e inteligente que ela tanto se orgulha. Ela mancha a borda da xícara de vermelho, a cor da paixão. Da paixão que ela tem por tudo o que faz. Da paixão que coloca em tudo o que toca. Cor do amor que guarda para si ou despeja nas páginas de qualquer caderno. Do amor que ela dá e não recebe em troca. Mas tá tudo bem. É o que eu digo para mim mesmo todas as vezes que a assisto passar pela minha rua. Eu diria para ela também, mas ela sabe. Ela tem cara de que sempre sabe das coisas. Ela sabe que um dia vai parar e me perguntar o que eu tanto olho. Ela sabe que vai bater na minha porta e eu vou estar com café fresco esperando por ela e por todos os seus sonhos escondidos no bolso. Ela sabe, ela sempre sabe.

sexta-feira, 13 de março de 2015

9 de março de 2015


Passei bastante tempo tentando absorver e entender o porquê desse dia ter mexido tanto comigo. Se cheguei em algum lugar? Não. Quem sabe no fim dessas linhas eu compreenda. Nenhuma dor de garganta se compara à minha agonia em me ver sozinha. Admito; Solidão é algo que eu nunca me senti confortável em vestir. É aquele meu short apertado na cintura que só uso quando não tem mais roupa limpa e me faz andar toda quadrada. Todavia, na lavanderia da minha vida faltava um tempo bom pra secar meus vestidos favoritos. Passei alguns meses tentando achar um lugar ao sol onde eu pudesse me sentir feliz (afinal, quem não gosta de roupas secas e limpas?) mas a época de chuva em Belo Horizonte estava se alongando demais. Às vezes aparecia uma luz entre nuvens pra me deixar um pouco mais aliviada, porém todo final de tarde era escuro, quase tanto quando o meu café. Não lembro quando desisti de estender roupas no varal, só me recordo do cesto que ficava cada vez mais cheio. Cheio de coisas que precisavam ser compartilhadas. Recordo de uma certa conversa com uma budista que, voluntariamente, quis examinar meus chakras: "Seu canal comunicativo é muito sensível, você tem necessidade de falar as coisas", ela disse. "Dor de garganta é um sinal que seu canal tá desequilibrado". Na época não fez muito sentido e não acreditei em nada daquilo, mas quando cheguei em casa hoje não sentia mais dor e engolia com facilidade. Entretanto o meu maior espanto foi encontrar finalmente um cesto de roupas secas no meu quarto.

Foi um belo dia de sol, mas tudo o que eu precisava mesmo era de um chá das cinco.