sexta-feira, 24 de outubro de 2014

"É preciso sair da ilha para ver a ilha..."

O despertador tocou em algum lugar no meu sonho. Eu sabia que era hora de levantar e encarar mais um dia. Um banho bem tomado e uma xícara de café forte já davam conta de eliminar os resquícios de uma noite mal dormida, mesmo que por dentro eu continuasse completamente adormecida. Eu entrei no ônibus às 6h45, assim como no dia anterior e no dia anterior àquele. Sentei no mesmo lugar e olhei a mesma paisagem pela quinta vez naquela semana. Aquela rotina que há alguns meses me provocava a sensação emocionante de estar embarcando numa nova aventura simplesmente tinha se dissipado.  Assisti aquelas mesmas aulas, ao lado dos meus não-tão-amigos-assim, troquei algumas palavras com pessoas que me faziam feliz por alguns minutinhos daquele meu dia cheio de vazio, andei de volta pra casa e finalmente sucumbi. Minha cama já tinha o molde perfeito do meu corpo e por mais que meus lençóis fossem coloridos e o quarto permanecesse impecavelmente arrumado, tudo não passada de uma fachada. Senti a dor pulsar nas minhas têmporas durante minutos que se arrastavam e finalmente levantei, apenas para tomar um remédio e mais uma dose de cafeína. Olhei para minha mesa abarrotada de lembretes, papéis e coisas para fazer; Tudo cuidadosamente ignorado ao longo da semana. Ou do mês. Eu nem lembrava mais o que era tudo aquilo acumulado, mas sabia que era a representação física do meu estado emocional. A voz da minha mãe ecoava na minha mente, me mandando arrumar o quarto porque só assim eu arrumaria as coisas dentro de mim. Alguns velhos costumes nunca morrem. 18h45. As horas voam quando apenas as contemplamos passando. Meu celular estava quieto. Ninguém mais se incomodava em me chamar para qualquer coisa nas sextas à noite, afinal, eu quase nunca aparecia. No início era a falta de dinheiro que se transformou em falta de disposição e acabou em falta. Faltavam amigos. Faltavam bons momentos. Faltava um pouco de felicidade na minha vida rotineira. Inesperadamente meu celular vibrou, me surpreendendo com uma oportunidade. Sorri comigo mesma imaginando a força maior que rege o universo interferindo na minha vida mais ou menos, me dando uma chance de viver a vida que eu sempre quis viver quando mais nova. Algo dentro de mim pareceu encaixar-se, mesmo que o frio na barriga indicasse o tanto que eu estava apreensiva em sair da minha própria caverna. Suspirei e abri meu armário. Abandonei meus pijamas de sempre e vesti algo que me fizesse sentir bem comigo mesma. Fiz o possível para ficar apresentável e, enquanto fechava a porta do meu quarto, fiz uma promessa silenciosa de que arrumaria aquela mesa no dia seguinte. 

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Sobre o último dia mais feliz da minha vida

Não último de final. Por favor, ainda tenho muito o que viver, obrigada. Mas "último" no sentido de "mais recente". Tão recente que não aguentei chegar em casa para escrever isso. Vim digitando no celular durante todo o caminho porque meu coração estava (ainda está) tão cheio de alegria que transbordou essas palavras bonitas aqui. Pela primeira vez, e eu sei que falo muito de primeiras coisas aqui, eu percebi o quanto eu já mudei desde que pus os pés em Belo Horizonte. Hoje embarco pra minha terrinha baiana para matar a saudade dos meus amores maiores que ficaram por lá (beijo mãe! beijo mô!), e como se não bastasse esse pequeno grande motivo para que meu dia fosse sensacional, eu ainda tive o prazer de me sentir amada pelos meus amigos. Eu sou muito dependente de pessoas e de contato humano. Gosto de ajudar, me intrometer, puxar orelha, dar carinho, dar colo, dar consolo... Porém isso nunca foi tão forte como acabou se tornando quando me vi numa realidade tão nova. Acho que estar distante das pessoas que eu conheço há tempo me fez investir nisso muito mais. Sempre fui conhecida pelo egoísmo no meu núcleo familiar. Minha mãe sempre fez questão de me lembrar que esse é o meu maior defeito e eu fico muito grata em constatar que eu já não vejo esse traço em mim. Essa semana eu comecei os dias ficando muito mal por inúmeros motivos, mas a reviravolta que minha vida deu em um pequeno espaço de 24h foi assustadora. Conquistei uma das coisas que eu mais queria aqui, a moradia universitária, tornando a minha vida e a dos meus pais muito mais fácil. Isso me deu uma nova perspectiva de futuro que eu nem sequer arriscava a ter e a felicidade é imensa, quase não cabe nos meus 1,59 de dignidade. Mas esse não é o foco desse texto. Eu queria agradecer de coração, do fundo dele, na sua completude, às pessoas que me abraçaram hoje e disseram estar feliz por mim. Por eu estar voltando pra casa, por eu ter conseguido a moradia, me desejando boa viagem ou apenas porque gostam de fazer isso. Eu prezo muito pelo bem estar alheio e pela primeiríssima vez, eu vi como é bom ter gente que cuida da gente assim. Não que eu não tivesse amigos que zelassem por mim, mas falo de relações que foram fruto dos meus cuidados e do meu carinho desde que cheguei em Minas. Fico feliz de finalmente ter averiguado o quanto eu pertenço ao curso que escolhi (valeu galera da Cria!) e mais contente ainda por agora ter me apaixonado pelo que pode ser o foco do meu atual/próximo semestre. Esse texto pode não fazer o mínimo sentido pra quem está lendo aí, mas eu só precisava escrever que cheguei aqui Salvador e hoje uma parte de mim se tornou Belo Horizonte. Obrigado a você que me deu um pouquinho do seu carinho hoje e me fez uma pessoa muito mais feliz!