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Eu queria ter um botão de desligar. Um modo soneca de mim mesma. Onde eu simplesmente paro de sentir tudo por um tempo e faço as coisas no automático. Onde eu paro de pensar como as pessoas me veem todos os dias. Onde eu paro de achar problemas em tudo o que eu faço, digo, penso, sou. Fico imaginando que por trás de todo elogio que eu faço, existe um "me enxerga também". Por trás de cada abraço que eu dou, tem um "cuida de mim, por favor". Não sou uma pessoa nada difícil de se lidar; Qualquer atenção e reconhecimento automaticamente me desarmam e me fazem desmanchar. Acho que eu já estou tão puída que agradeço quando alguém me tira do guarda-roupa e me leva pra dar uma voltinha. Acho que já me conformei tanto com a vida que aprendi a ser feliz com a felicidade dos outros em vez de buscar a minha própria. Acho que eu tento sempre ser uma estrela, mas acabo sendo um cometa.
Ser estrela, ter luz própria, ser memorável, presente, quente... Ser cometa, ser passageiro, ser sozinho, frio. Começo a pensar que tudo o que acho que sou na verdade é quem eu queria ser. Começo a sentir a solidão chegando, pouco a pouco. Eu abro a porta, faço sala, sirvo um cafézinho e ela vai ficando, vai ficando, vai ficando. E eu vou sumindo cada vez mais, dentro de mim mesma. Afundando em todos esses pensamentos que escaparam da porta trancada no fundo da minha cabeça, sendo ameçada pelos meus próprios monstros. Falta muito para chegar naquela parte do filme em que aparece alguém que salva os inocentes e coloca tudo no lugar? E como faz quando o protagonista percebe que é inocente, herói e vilão ao mesmo tempo? O herói mata o vilão e salva o inocente. O herói mata a si mesmo e leva junto o vilão e o inocente. O herói vive junto com o vilão e o inocente. O herói protege o inocente do vilão. Esse filme já tem quase vinte anos e no momento os três brigam e eu assisto. Assisto e sinto tudo pegar fogo dentro de mim. Com essa crise de água talvez demore pra eu conseguir me apagar. Me desapegar.