quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Sobre os encontros e desencontros da vida

A maioria das coisas que eu digo aqui são momentâneas. Tem muito do meu humor diário, das minhas situações mensais, dos meu questionamentos existenciais da vez... No início dessa semana eu me peguei discutindo com amigos sobre como eu não acredito em coincidências. Nada é por acaso. Na minha mente, eu não consigo me conformar que o fato de eu ter vindo parar nessa cidade, num curso que eu não tinha nenhuma intenção de fazer, tenha sido apenas uma aleatoriedade do destino. Sei lá... Parece que tudo se encaixou depois desse gigantesco passo. Sempre que consigo parar para pensar com clareza, percebo que dia após dias tenho caminhado para viver a vida que eu sempre quis. Belo Horizonte tem sido minha amiga e companheira, me fazendo encontrar pessoas que me fazem sentir em casa, outras que me dão um choque de realidade, outras que simplesmente me fazem questionar a minha personalidade e os meus atos; Enfim, finalmente sinto que estou chegando em algum lugar, mesmo que eu não faça a mínima ideia do que me aguarda ali na frente. Saramago já dizia: "É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós". Saí completamente da minha zona de conforto, do meu mundo infinito particular e repetitivo, me propus a fazer coisas que nunca havia feito antes, a tentar conhecer gente e fazer amigos (de verdade!), a tratar todos bem (na medida do possível) e, acima de tudo, me permiti ficar perdida e apenas deixar a vida me levar. Foi difícil? Foi, mas me sinto dona de mim mesma depois disso. Do meu querer, do meu saber, do meu futuro e da minha vida, principalmente. Sinto saudade das coisas que já vivi, mas a ansiedade pelo que pode acontecer consegue me deixar distraída por bastante tempo. Em algum momento da minha pré-existência eu devo ter assinado um termo que dizia: "Eu, Luiza de Simone, precisarei mudar para Belo Horizonte para me encontrar e descobrir o que eu quero da minha vida". E foi assim. Ponto final. Aliás, ponto de continuação. O final dessa jornada ainda tá muito longe.

domingo, 7 de setembro de 2014

A vida sempre continua

Hoje eu acordei em prantos. Fazia muito tempo desde que eu tive um pesadelo tão forte como esse. Fiquei encolhida debaixo das cobertas tentando acalmar as batidas do meu coração, tentado sobreviver ao nó que sufocava minha garganta. Respirei fundo uma dúzia de vezes e fiz a única coisa que eu poderia fazer: Levantei da cama para enfrentar mais um dia sozinha. A pilha de pratos na pia pequena era um lembrete das minhas tarefas domésticas que aguardavam pacientemente para serem realizadas. Não sentia fome, o que era uma raridade, mas comi para preencher o vazio dentro de mim. Sentei na pequena sala vazia e pouco iluminada, ouvindo o som do silêncio que ecoava em cada cômodo. 

Imaginei minha mãe na cozinha preparando tudo para o almoço e ela apenas falava coisas vagas que me eram familiares até demais. Imaginei o samba que sempre tocava nos fins de semana lá em casa. Imaginei meus gatos se enroscando no meu colo, pedindo carinho como sempre. Acho que se eu não tivesse a capacidade de criar esses mundos paralelos dentro da mina mente, certamente eu não teria sobrevivido à solidão que me acomete semanalmente. Noite passada minha mãe tinha me falado que a família estava se mobilizando para preparar o que provavelmente seria o último aniversário da minha vó. Senti um aperto no coração ao constatar que eu não estaria presente. Tive medo de não conseguir mais vê-la antes dela partir. 

Na verdade, medo é o que mais me habita nesses últimos tempos. Medo de ficar sozinha e de não me encaixar. Medo de voltar para casa e perceber que tudo mudou. Medo de ser abandonada e esquecida pelas pessoas que amo. Medo de precisar mudar para me adaptar. Suspirei pesadamente e encarei meu reflexo na tela da televisão desligada. As olheiras apenas cresciam, mesmo que eu tivesse dormido mais que oito horas na noite passada. Há muito meu cabelo não via uma tesoura e isso me incomodava profundamente. Sempre que eu me vejo diante de uma situação difícil, faço algo no cabelo. Na noite anterior vi muitos vídeos de pessoas pintando o cabelo de azul e acordei determinada a fazer isso também. Exceto pelo pequeno fato de que não queria arriscar fazer sozinha e eu não tinha quem quisesse me ajudar. 

Ainda eram oito da manhã, surpreendentemente cedo para um domingo frio. E pensar que naquele momento, há alguns anos atrás, eu estaria voltando pra casa depois de mais um desfile em comemoração à Independência do Brasil. Eu estaria almoçando com minha família. Eu estaria feliz. Sempre odiei a teoria de que precisamos perder para dar valor, e odeio mais ainda o fato de que é a mais pura verdade. Nunca dei valor à minha mãe e família como dou hoje. Nunca senti tanta falta de ter alguém pra compartilhar a vida como sinto hoje. Nunca me vi tão sozinha quanto me vejo hoje. Hoje eu só sento e escrevo para tentar esvair todos esses sentimentos ruins que volta e meia me assombram, simplesmente porque não acho que alguém teria paciência de ouvir sobre todos os meus sentimentos absurdamente sombrios e contraditórios. 

Estou aprendendo a viver sozinha e acho que esse vai ser o maior desafio que vou enfrentar na vida. Não precisar de ninguém, ser auto-suficiente, me sentir confortável em partilhar o espaço comigo mesma. Deixar que as pessoas deem uma passada rápida para ver como minha vida anda e fingir que está tudo bem, mesmo que não esteja. Agora são quase meio dia e eu pretendo arrumar a casa e fazer almoço. Comer sozinha, como todos os outros dias do mês que passou. Ver uma série que ainda não vi. Ler sobre a vida dos outros e rir de mim mesma por não estar buscando algo do tipo. Espero, sinceramente, que um dia eu possa ser alguém que eu me orgulhe. Espero de verdade que eu consiga tirar proveito dessa experiência que eu escolhi passar. Meu orgulho não me deixa desistir; Sempre foi assim e sempre será. Mesmo que eu queira voltar para casa, mesmo que eu queira abandonar tudo, não vai acontecer. No fim, tudo fica bem. Se não está bem, é porque ainda está longe de acabar.