sexta-feira, 4 de setembro de 2015

"[...] nem brisa nem a poesia, nem a lua que surgia me fez esquecer você."


Eu te vi do outro lado do picadeiro. Foi o bastante para sentir tudo dentro de mim desmoronar. "E lá vamos nós de novo". A conhecida sensação de descontrole me invadiu, como sempre. Senti ódio de mim mesma, ódio do meu coração que se encantava com um sorriso torto distante. Ele não seria o primeiro (e muito menos o último) a invadir meus pensamentos e depois ir embora. Era sufocante a sensação de imaginar pequenas possibilidades. A ideia do nós sempre chegava violentamente, destruindo tudo o que tocava, e eu me afogava. Engolia paixão, respirava esperança, engasgava com a impossibilidade, tossia tristeza. Uma vez, duas vezes, mais uma vez. Eu me conhecia bem o suficiente para prever tudo isso. No momento em que eu te vi, eu soube. Seu nome, como seria nosso primeiro beijo, os filmes que veríamos juntos, as tardes na Praça da Liberdade. Eu sabia mais ainda o quanto pensar nisso me machucaria, afinal, eu era formada e graduada em dez tipos diferentes de autossabotagem. Meus pensamentos eram embalados pelo ritmo lento e compassado, a letra eu conhecia de cor. Sorri com escárnio te vendo dançar, rindo de mim mesma por um dia ter dito que amava amar. O amor sempre foi roleta russa, e pra quem já tinha sido baleada tantas vezes, eu já sabia exatamente a hora do tiro.

Levantei e fui embora, deixando para trás você, o forró e o dedo no gatilho.

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